STEPHANIE ROSENBLOOM
DO "NEW YORK TIMES"

Jessica H. Lawrence, ao deixar seu emprego no Girl Scouts do distrito de San Gorgonio em Redlands (Califórnia) para começar um nova vida em Nova York, chegou na cidade, no final de janeiro, sem emprego, apartamento ou alguém para mantê-la aquecida nas noites de inverno.
Mas, em menos de seis meses, ela encontrou todos os três --e tudo isso graças ao Twitter.
O emprego surgiu após uma mensagem inspiradora de um amigo no Twitter que a fez participar do encontro NY Tech Meetup, onde ela se candidatou para um emprego e se tornou a diretora-executiva.
Ela encontrou um apartamento depois de enviar uma mensagem no Twitter ao fundador do restaurante Midnight Brunch. Isso acabou se transformando em um convite e --depois do encontro com os donos da casa revestida de pedra, onde as refeições são servidas-- no apartamento do subsolo também.
Quanto ao namorado, um dos fundadores do clube do vinho Noble Rot, ela o conheceu quando começou a seguir o clube no Twitter. Na próxima semana, eles vão se mudar para um apartamento em Williamsburg.
"Então, você pode ver por que eu tenho esse amor eterno pelo Twitter", disse Lawrence, 32. No entanto, sua devoção a uma rede social não é um ato de sentimentalidade --é parte de uma cuidadosa estratégia de combate à exaustão das redes sociais. Em um tempo no qual qualquer pessoa com acesso à internet deve se dedicar a diversos sites de relacionamento e manter um emprego durante o dia, Lawrence decidiu concentrar-se em um único site em vez de se desdobrar além de seus limites sobre meia dúzia deles.

Editoria de Arte / Folhapress

A pressão implacável para participar das mais novas redes sociais tornou-se destaque em junho com o lançamento do Google+, o site de relacionamento do Google. De acordo com a Nielsen, as redes sociais são atualmente a atividade on-line mais popular, superando o envio de e-mails, as pesquisas na internet e a participação em games.
Colocando de outra forma: um em cada quatro minutos e meio gastos na web é dedicado aos sites ou blogs de relacionamento. E, no ano passado, o visitante comum gastava 66% mais tempo nesses sites do quem em 2009, quando os primeiros adeptos já estavam se sentindo digitalmente exaustos.
"Eu estou com sobrecarga tecnológica", disse Lawrence, que tem contas no Facebook e no LinkedIn, mas que quase não as usa mais. "Eu já sinto como se estivesse vivenciando uma morte lenta por e-mail." Mesmo adorando tecnologia e usando o Google+ desde o seu lançamento, "estou tendo muita dificuldade para justificar a inclusão de outra ferramenta social para o meu kit de ferramentas", disse ela.
Mas qualquer tentativa reducionista feita por internautas cansados é complicada devido à proliferação de sites como o Klout e o PeerIndex, que estão ativamente calculando a influência dos usuários e ranqueando-os em uma hierarquia on-line. (No Klout, cada usuário recebe uma pontuação entre 1 e 100. Se você estiver na faixa dos 20 pontos, está na média; se tiver algo próximo de 40, você está sendo seguido de maneira saudável; se a sua pontuação for 100, você é o Justin Bieber).
Dependendo da pessoa em questão, isso é algo fantástico ou assustador. No futuro, marcas e até potenciais empregadores poderão tomar decisões a seu respeito com base em sua pontuação. (Algumas empresas, como a Virgin America e o Palms Hotel and Casino em Las Vegas, fizeram testes com o Klout.)
Os usuários mais ativos e organizados das redes sociais têm rotinas diárias para aprimorar suas identidades digitais. Geralmente, essas rotinas dependem de automação e distribuição. Por exemplo, sites como o Ping.fm, o OnlyWire e o Hellotxt permitem que os usuários publiquem o mesmo conteúdo em vários sites de relacionamento com um ou dois cliques no mouse. Outros sites, como o Buffer, o SocialOomph e o TwitResponse, possibilitam que os usuários escrevam posts com meses de antecedência e os agendem para serem publicados em uma data futura.
"Automação, tanto em termos da data em que o conteúdo é disponibilizado quanto distribuído, é o que me impede de enlouquecer", disse Josh Kaufman, autor de "The Personal MBA: Master the Art of Business" (O MBA pessoal: domine a arte dos negócios, na tradução literal). "Caso contrário, isso seria simplesmente impossível de gerenciar."
As contas do Facebook e do LinkedIn de Kaufman estão ligadas à sua página do Twitter. Então, quando ele publica uma atualização no Twitter, ela aparece em todas as suas três contas. "E, quando eu conseguir descobrir como fazer para transmiti-la para o Google+, eu o farei também. "Será que eu preciso ter o controle de mais alguma coisa?", disse ele imaginando.
A resposta é não, mas, por enquanto, Kaufman, 29, residente de Fort Collins (Colorado), tem reservado para sua rotina em redes sociais menos de 30 minutos todas as manhãs (na verdade, exceto pelo dia em que cortou a sua lista indigesta das pessoas que seguia no Twitter de 1,5 mil para 85).
Dito isso, ele mantém os painéis das redes sociais abertos em seu computador o dia todo a fim de absorver as suas informações gotejantes. Por trabalhar sozinho, ele gosta do "efeito bebedouro" dos feeds de seus amigos: a facilidade com que ele pode dizer olá para alguém distante, mesmo que apenas por um momento.
Quando ele precisa se concentrar, ele confia no Freedom, um aplicativo de produtividade capaz de bloquear a internet por um período de até oito horas. Alternativamente, ele configura o seu computador de modo que, ao tentar desviar seu browser para, digamos, o Google+, o computador o direciona, em vez disso, para uma página no desktop.
"Se você usa sua força de vontade uma vez para mudar o ambiente", disse ele, "não é preciso ter disciplina".
Alguns usuários acreditam que todas essas redes sociais acabam levando a uma alienação.
"Eu prefiro passar o tempo com alguém em um restaurante em vez de passá-lo no Foursquare dizendo às pessoas 'Eu estou no restaurante'", disse Graham Hill, 40, fundador do site TreeHugger e do concurso de design LifeEdited. Falando de uma cabana no Canadá sem serviço de internet, ele disse que usa o Twitter e o Facebook e que está bisbilhotando o Google+. No entanto, Graham se esforça para ser eficiente.
Por exemplo, ele lê um livro no Kindle, faz o upload das citações e das ideias inspiradoras em sua conta da Amazon para, em seguida, editá-las em forma de posts no Twitter, os quais agenda para serem publicados ao longo de muitas semanas por meio do serviço de monitoramento HootSuite.com.
Algum dia, ele espera contratar alguém para editar e publicar conteúdos em seu lugar a fim de que seja possível passar mais tempo off-line.
"Os momentos intermediários são importantes", disse ele, referindo-se aos momentos ociosos da vida, como esperar na fila do banco ou tomar um táxi, "momentos em que você deveria estar consigo mesmo em vez de tentando estar em algum lugar no qual não está."
Muitas pessoas escolheram desintoxicar-se das redes sociais ou optaram por saírem delas simplesmente para voltarem mais tarde. Lawrence afirma que analisa todos os sites de relacionamento fazendo a si mesma uma única pergunta: "Isso irá melhorar a minha vida?".
Cada site de relacionamento tem a sua própria cultura, disse Brian Solis, diretor do Altimeter Group, uma empresa de pesquisa tecnológica, e autor do livro "The End of Business as Usual" (O fim dos negócios como costumavam ser, na tradução livre). Mas cada cultura não é certa para cada pessoa.
"O valor está nos olhos de quem vê", disse Solis, acrescentando que uma pequena porcentagem de leitores de seus sites de relacionamento afirma estar sofrendo de fadiga das redes sociais. E eles costumam tomar um segundo fôlego.
"Todas as pessoas ainda estão falando sobre requerer a falência do e-mail", disse ele. "Mas, no final do dia, você continua a usá-lo."


Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS

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