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Que tal fazer do seu bairro uma grande sala de projeção? Conheça três iniciativas desse tipo e inspire-se a levar luz, câmera e interação ao local onde você mora
Texto: Larissa Soriano // Ilustração: Lupe Vasconcelos
Iluminados pelo brilho da tela, todos choram e riem juntos. Essa é a imagem que José Luiz Zagati, de 60 anos, catador de sucata, nunca esqueceu. “Fui ao cinema pela primeira vez aos 5 anos e achei mágico”, conta. Em 1997, juntou suas economias para comprar um projetor usado, por 80 reais. Na mesma noite, pendurou um lençol na rua, num bairro pobre de Taboão da Serra (SP), e exibiu aos vizinhos pedaços de filmes encontrados no lixo. Nascia o Mini-Cine Tupy, onde desde então muita gente teve a chance de conhecer a sétima arte.

O professor de literatura Flávio Galvão, de 34 anos, também se dedica a levar o cinema à periferia. “As salas hoje são excludentes, quase ninguém tem acesso”, diz. Por isso Flávio criou o projeto Cinescadão. As sessões, mensais, acontecem em uma escadaria no Jardim Peri, zona Norte de São Paulo, desde 2007. A maioria dos filmes é produzida por grupos independentes e tem como temática questões sociais. Não por isso o Cinescadão deixa de atrair um grande público infantil.

Encontros parecidos são realizados numa região nobre da capital paulista: o bairro Alto de Pinheiros. Em 2008, a administradora de empresas Cecília Lotufo, de 35 anos, criou um movimento entre os vizinhos pela revitalização da praça François Belanger. “Queríamos resgatar a ideia de um lugar de convívio”, conta. Hoje, há eventos mensais no local. Em dois deles, em abril e novembro deste ano, houve sessões de cinema ao ar livre.
Gostou dessas iniciativas? Então veja abaixo como elas funcionam na prática, e inspire-se a conclamar os vizinhos para fazer seu próprio cinema comunitário.

O lugar
Não é preciso uma sala escura com ar-condicionado para curtir uma ótima sessão de cinema. O público do Cinescadão assiste aos filmes sentado na escadaria do bairro. Nas sessões na praça, cada um leva a sua cadeira, canga ou toalha. Já José Luiz Zagati projeta os filmes em uma sala da sua casa, com cadeiras de cinema que ganhou. Qualquer lugar serve, desde que haja acesso à energia elétrica (mesmo que seja por meio de extensões) e condições de receber o público e instalar os equipamentos.

O equipamento
O projetor pode ser de rolo ou digital. Seja como for, é preciso uma tela. O pessoal do Boa Praça a pendura nas árvores ou no parquinho. No Cinescadão, um morador sede a janela como suporte. “Uma parede branca e lisa ou um lençol da mesma cor, bem esticado, funcionam bem”, diz Flávio Galvão. Outra questão é o som: a quantidade de caixas depende de sua potência e do espaço. Mas há alternativas: a turma da praça François Belanger já exibiu filmes mudos com trilha ao vivo executada por vizinhos músicos.

A programação
Filmes são protegidos por direitos autorais, e reproduzi-los sem autorização, mesmo em uma sessão gratuita, é crime. O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) é o órgão que regula a exibição, liberada mediante pagamento de taxa. Filmes lançados há mais de 70 anos já são considerados de domínio público, e podem ser exibidos livremente. Outra alternativa são obras feitas pela própria comunidade, como as projetadas pelo pessoal do Cinescadão.

O público
Propaganda é a alma do negócio. José Luiz pendura na frente de sua casa um cartaz de cartolina anunciando o próximo filme. Já o pessoal do Cinescadão cola anúncios nos postes. Cecília distribui panfletos no açougue, na padaria e na academia de ginástica. Também vale recorrer à internet. Pensar no público é fundamental na hora de escolher a programação. No Cinescadão não entra filme violento, por causa das crianças. Já o pessoal do Boa Praça faz uma enquete na comunidade virtual do grupo – boa ideia para tornar a diversão democrática.

Link deste post: http://www.revistasorria.com.br/site/edicao/um-cinema-perto-de-voce.php

Veja mais:
http://www.boapraca.ning.com/
www.youtube.com/cinescadaojdperi
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